Poesias







Obediência






E assim

a lua

inteira

plena

cheia

esplêndida

contempla

silenciosa

e  respeitosamente

agradece...


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(Re)Agir



sair

caminhar

cumprimentar

conversar

palpitar

observar

contemplar

irradiar

energizar

enternecer

reparar

apreciar

fotografar

filmar

rememorar

aproveitar

espairecer

registrar

escrever

compartilhar



agradecer

agradecer

agradecer

a-gra-de-cer...




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Luto

a ausência dói
o peito dói
a alma dói
o ser todo dói

os olhos choram...




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Sem noção



Humor deprimido anos a fio

Críticas, críticas, críticas...

Omissão



Onde está sua médica?

Entenda-se com ela

Não quero chateação.

Igreja, igreja, igreja...

Olha o meu umbigo

Sempre o mais bonito!



[...]



Renascimento

Alegria, felicidade

Estampada no rosto

Vida social, lazer

Sabor da cerveja

Risos, descontração

Aberta a brincadeiras...



Bom te ver assim!?

Nem pensar

Uma geladinha faz coisas!



Humano (?) sem noção...




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Tempo



ah, o tempo...

companheiro

de vida

nada cura

transforma

de um jeito sublime

nosso íntimo

amadurece-nos

sabiamente

  

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Inércia



chateação

solidão

depressão

sem ação

lamento

tormento

que atordoa

atordoamento



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Inconfundível



Amor maternal, paternal, filial, fraternal...

esses quase todos sabem como são.

Mas o amor de casal

infelizmente

nem todos conhecem.



E, talvez, por vergonha,

ignorância ou conveniência,

tratam de confundi-lo com

amizade, companheirismo,

benquerer, atração física...



Há até quem saia por aí

a satisfazer seus instintos sexuais,

ora aqui ora acolá,

e a vangloriar-se, depois,

dizendo ter feito amor “de montão”.



Impossível. O amor entre um casal

é como uma ave rara que pousa

na palma de nossa mão.

É preciso sabedoria para capturá-lo

e vivê-lo em plenitude.



Os que o deixam voar,

sabem ao menos que ele existe.

Apreendido ou não, sua sensação

é inconfundível. Com nada se assemelha.

Transcende o tempo e as distâncias.



Não há dinheiro que o substitua,

nem beleza que o suplante,

nem idade que o limite.

Que bom seria se todos pudessem senti-lo,

cedo ou tarde, não importa.



O importante seria não morrer antes

de saber o que é o verdadeiro amor de casal.



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(Re)Viver




acordar

espreguiçar

desejar bom dia

a mim mesma

e ao mundo também

agradecer

abrir a janela

apreciar a claridade e

 o ar fresco da manhã

deliciar-me com o aroma e

 o gosto do café esfumaçante

ligar o rádio sem me importar

com o volume do som

ouvir música, cantarolar, dançar...

caminhar alguns quarteirões

alegrar-me com os detalhes do que vejo

agir, interagir, manifestar-me

regozijar

viver plenamente



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Deserto



Sozinha

de dia e

de noite.



Anos a fio

assim,

solitária.



Marido e filhos

cumprindo suas

obrigações diárias.



Amigos não tenho.

Ninguém gosta de

companhias depressivas.



Preconceito?

Medo de contágio?

Ignorância ou omissão?



Que me importa

saber o motivo

dessa alienação...



Por telefone, carta, e e-mail,

recebo mensagens otimistas,

receitas de felicidade.



Dicas que não consigo

por em prática, que me fazem

sentir um reles ser sem ação.



A frustração de quem tudo prometia,

mas que em nada resultou,

levou todos os meus sonhos.



Há anos não sou mais quem fui.

De mim, resta apenas um esboço amarelado

pelo tempo, que corre alheio a meus tormentos.



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A um mestre que se retira




Mestre que, sem mestrado,

há muito faz jus

ao título de doutor.



Doutor honoris causa,

cuja experiência muito

nos cativa e motiva.



Mestre de muitos outros

nossos mestres, é, portanto,

nosso bi-mestre!



Mestre que fala dos grandes mestres,

das literaturas brasileira e portuguesa,

como se deles houvesse sido íntimo.



Machado de Assis, Fernando Pessoa,

Almeida Garrett, Clarice Lispector...

e Guimarães Rosa, o seu predileto.



Quanto prazer transparece

em sua maneira de ler...

Quanto entusiasmo!



Afasta-se dos trabalhos acadêmicos,

como um desportista que escolhe

a hora de encerrar sua carreira.



Quanta honra é, para mim,

fazer parte da última turma que

o mestre Manuel Brito ajudou a formar.




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Tecnologia, progresso, valorização humana:

convivência sem conflitos?



Vivemos uma era em que o

desenvolvimento tecnológico

dita as normas.



O cérebro humano

cria máquinas

cada vez mais

potentes e competentes.



A criação assume

papel tão ou mais importante 

do que o do seu criador.



A tecnologia torna-se imprescindível

em praticamente todas

as áreas de atuação humana.



A humanidade tenta

desesperadamente

acompanhar o ritmo de tantas

e tamanhas mudanças.



Um turbilhão de acontecimentos

impulsiona a busca de adaptação

a novos fatos e comportamentos.



O futuro faz-se

passado

sem praticamente

ter sido presente.



Somos pais de filhos crianças,

já pais adultos

de nossos netos

adolescentes.



A pressa contagiante

impede a avaliação

dos efeitos causados

por essa monstruosa engrenagem.



O gênero humano avança maquinalmente.



Onde a infância bem vivida?

Onde adultos emocionalmente equilibrados?

Onde famílias devidamente estruturadas?



Onde o pão e a mesa farta?

Onde a honra de pais trabalhadores?

Onde a velhice amparada?



Não! Não há tempo

para questionamentos

dessa natureza.



A competitividade

não cede espaço

para a solidariedade.



A luta pela sobrevivência é acirrada.

A flexibilidade profissional é um imperativo vital.

Não há mais lugar para quem

não se adapta aos moldes atuais.



Urge reaprender a viver,

redirecionar valores,

submeter-se ao progresso desenfreado.



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O grito


Um casal de namorados.

Colegas de turma.

Adolescentes. Inexperientes.

Puros. Ingênuos. Tímidos.

Amor de conto de fadas.



Dois anos de paquera silenciosa.

Vários dias para o primeiro beijo,

um selinho.

Estavam no céu.

Mereciam o céu.



Dois meses na nuvens.

Dia de entrega de provas.

Algazarra. Barulho.

Os pombinhos, em suas carteiras,

conversavam, nada mais.



Ela o provocou, brincando.

Ele respondeu-lhe, um leve toque no queixo.

Não desconfiavam de que tal gesto

viesse a ser a última carícia

de um amor tão profundo.



Um grito ecoou na sala.

O retrógrado professor

equivocado repreendeu-os.

Viu maldade onde só havia pureza.

Silêncio total. Rubor. Constrangimento.



Aquele grito atingiu além dos tímpanos dela.

Trincou-lhe a alma.

Ele também não foi mais o mesmo.

Mantiveram-se afastados por alguns dias.

Confusa, ela terminou tudo.



Nenhuma outra palavra.

Nenhuma pergunta.

Não se olharam nos olhos.

Fim do namoro.

Início de muita dor.

  

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Letras

               

Letras graúdas, miúdas, redondas,

achatadas, retas, inclinadas, impressas,

manuscritas, maiúsculas e minúsculas.



Não importa a forma nem o tamanho.

São apenas elementos gráficos que representam

os sons que ouvimos e que emitimos.



Conjunto finito de resultados infinitos.

Juntamos algumas letras e obtemos uma palavra.

Variamos as combinações e conseguimos mil palavras.



Ordenamos as palavras e formamos uma frase.

Agrupamos coerentemente as frases e produzimos um texto.

Temos então nosso pensamento representado por letras.



Apenas nosso pensamento, não! As letras expressam muito mais

que simples pensamentos. Trabalhadas artisticamente, traduzem

o sentimento e a emoção de quem as escreve.



Fácil? Difícil? Não, maravilhoso! Podemos eternizar o nosso íntimo 

por meio das letras. Refúgio dos mais tímidos, palco dos mais afoitos,

elas revelam nossa personalidade, nosso caráter, nossas habilidades.



São capazes de revelar-nos a nós mesmos.

Sua utilidade é indescritível. Não importa nossa profissão.

Em todas elas, as letras são imprescindíveis.



Letras tão importantes e tão desvalorizadas!

Constituem arma poderosa nas mãos dos governantes.

Sem elas, nação alguma prospera.



Com elas, abrem-se os olhos do povo.

E, assim como são bem articuladas na formação das

palavras, deixam-no de ser na formação do brasileiro. 



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Encontro de almas





Cena que se repete,

com frequência,

há muitos anos.



O dia é corrido.

Anoitece sem que eu perceba.

Já passa da meia-noite.



Exausta,

deito e adormeço

quase que imediatamente.



Sono pesado,

sem interrupções

nem sonhos.



Como todas as outras vezes...



Amanheço

juntamente com

o novo dia.



Percebo-me angustiada

antes mesmo

de abrir os olhos.



Melancolia profunda.

Identifico-a: saudade,

muita saudade...



Nítida sensação

de haver estado com ele

até instantes atrás.



Respiro fundo na esperança de alcançar-lhe

ainda os lábios para um último beijo...

Nada... Tentativa frustrada.



Como todas as outras vezes...



Procuro uma explicação. Interrogo-me.

Será ele que vai? Ou serei eu que volto?

De onde? Onde nos encontramos?

Não sei... Sei apenas que nos encontramos.



Como todas as outras vezes...



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Divagando



Sentada em frente ao computador,

abro uma página em branco.

Olhar fixo, perdido, inconsciente.

O cursor pisca sem parar

lembrando-me de que é hora de acordar.



Acordar para a vida,

juntar o sonho com a realidade,

provar para mim mesma

que nada é impossível

para quem vive de verdade.



Conciliar lembranças e cotidiano

é não perder o passado para o presente.

Não somos resultado somente do agora,

nossa bagagem não é apenas contemporânea,

começamos a conquistá-la ainda no ventre.



A cada dia faz-se mais espessa

tornando-nos pessoas distintas,

com conceitos demudados pelo tempo.

É preciso cuidado, portanto,

para não sermos indiferentes.



A indiferença não é edificante,

caracteriza pessoas egoístas,

frias, insensíveis...

Pobres seres pobres de espírito,

alheios a valores tão importantes!



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