quinta-feira, 17 de maio de 2012

Homenagem


À minha primeira fonte inspiradora,
impressa na primeira página
de um caderno escolar,
no início da década de 70:


Autopsicografia


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa
27/11/1930






Extraído do livro "Fernando Pessoa - Obra Poética",
Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 164.


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